Tango: abraço sem contra-indicações
Este mês, em férias no Brasil, vi que o ator Paulo José, que há mais de 20 anos convive com o mal de Parkinson, faz agora um personagem com a mesma enfermidade também na ficção, na novela Em Família.
Se estivesse na Argentina, o personagem “Benjamin” poderia complementar a fisioterapia com o tango!

Paulo José nas gravações da novela / Fonte
A dança já é oferecida por várias instituições como a coadjuvante para pacientes com Parkinson e outras enfermidades, como a depressão, a esquizofrenia e o Alzheimer, para citar algumas.
Como professora, tive duas oportunidades de comprovar seus benefícios em pacientes. Durante um ano, fui assistente em uma oficina de tango para pacientes com Parkinson no Hospital de Clínicas de Buenos Aires.
E também participei do Festival Loucos por Tango de 2013, realizado no maior hospital psiquiátrico de Buenos Aires, o Borda, que desde 2000 incentiva os internos a dançarem ao ritmo do bandoneón.

A professora Laura Segade, que coordena o grupo de Tango do Borda / Fonte
Benefícios
Os médicos dizem que o tango melhora o equilíbrio e a noção de espaço, além da reduzir a hipertensão e a ansiedade, por exemplo.
Mas para mim vai além disso, tem que ver com a motivação e a auto-estima.
O paciente que tem Parkinson tende entrar em depressão, se fecha, e não raro apresenta também problemas na voz, o que faz com que se encerre ainda mais. O próprio Paulo José tem dito isso em entrevistas: “Você vai ficando arredio, tem medo de muita gente”.
O tango é uma atividade que implica uma exposição, uma entrega, tem um aspecto social e lúdico importante neste processo. É preciso improvisar, o que permite a livre expressão dos sentimentos e emoções. E ainda abraçar-se, ato que gera a liberação de neurotransmissores e hormônios que favorecem diferentes funções a nível fisiológico e cerebral. Além, claro, da intimidade e comunicação com o parceiro.
Trabalhos Científicos
Universidades do mundo inteiro têm se preocupado em comprovar cientificamente o que a gente vê na prática. Pelo menos duas instituições estão avançadas nas pesquisas.
Uma delas é a Escola de Medicina da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, que já comprovou que bailar tango com frequência melhora o equilíbrio mais que outro tipo de atividade física. O estudo foi publicado em 2007. Outro trabalho, de 2012, é da Escola de Terapia Ocupacional de Montreal, Canadá (no link, na íntegra).
Há, ainda, investigações em curso em lugares tão distantes como o Japão e a Finlândia segundo a Associação Internacional de Tangoterapia.
Pioneiros
Em Buenos Aires, a Fundação Favaloro foi uma das primeiras a investigar o tema, em 1999, mas com pacientes coronários e outros que haviam sofrido acidentes cerebrovasculares. Os resultados foram compilados no livro “Con el corazón en el tango”, do cardiologista Roberto Peidro.
A Fundación Amar Tango Danza desenvolve, desde 2004, um excelente trabalho com alunos com diferentes capacidades e montou um impecável balé de jovens com síndrome de Down (eles podem ser visto no documentário Mundo Alas). Mas há várias iniciativas do gênero na Argentina.
Que a ciência comprove, é excelente. Mas quem baila sabe: o remédio mais poderoso e eficaz do mundo é o abraço.

Mundo Alas / fonte
Autora: Gisele Teixeira. Brasileira, jornalista formada pela Universidade Federal de Santa Maria e “cidadã do mundo” como se auto descreve. Autora do blog Aqui me Quedo, vive em Buenos Aires já a cinco anos e esta terminando seus estudos no Centro Educativo del Tango de Buenos Aires. Apaixonada pelo tango, Gisele é nossa blogueira convidada para contar quinzenalmente um pouco mais do tango, suas técnicas, regras e outros segredos! Para ler outros textos de Gisele visite o Aqui me Quedo.
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